segunda-feira, 27 de setembro de 2010

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Arte...

"(...) O 'caminho' todo em qualquer vontade de forma propositada (a única explicação racional do desenvolvimento artístico) é em direção a um equilibrio entre o sentimento interior e o mundo da experiência exterior, e a obra de arte funciona como a realização desse equilibrio. É , pois, um símbolo de reconciliação, de apaziguamento, e serve a esse propósito de maneira mais eficaz quando é 'abstraido' tanto da imediaticidade dos nossos sentimentos quanto da imediaticidade de um mundo objetivo e impessoal. A obra de arte, portanto, funciona melhor (e essa é a sua função normal ao longo da história) quando age como uma ponte entre os dois mundos do sentimento e da percepção, dando definição ao sentimento e forma à percepção (...)" Herbert Read

quarta-feira, 24 de março de 2010

Encontro...

Fui convidada pela ONG SOABEM para coordenar um encontro com educadores de adolescentes e jovens.
Procurei contribuir compartilhando com o grupo apostas fortes que faço em um trabalho de educação: : estímulo à criatividade, ao lúdico, ao diálogo e à cooperação.
A proposta parte do entendimento que para ser encontro verdadeiro é necessário haver diálogo. Quando falo de diálogo, não me limito apenas à fala, mas sim a todas as atividades que carregam em si abertura para que haja comunicação, interação e ampliação de nosso ponto de vista nesse contato. O diálogo é essencialmente aprendizagem em um processo de participação de todos. Todas as atividades escolhidas visam que a valorização e o respeito ao ponto de vista e expressão de cada um esteja presente.
Compreendo que só podemos ensinar aquilo que praticamos, então, bora para a prática! :)
Em roda - forma mágica onde todos podem ver a todos e sentir-se parte de um coletivo onde a posição de cada um é tão valiosa quanto a do outro - com uma bolinha na mão hora de se olhar dizer seu nome, algo que gosta de fazer e lançar a bola para outro, olhando nos olhos.
Ainda fortalecendo o que gostamos - aspectos de nossa identidade - algumas perguntas foram feitas ao grupo: quem gosta de dançar? - quem se identificasse, devia levantar a mão, e trocar de lugar com outro que também levantou a mão. Logo o pedido: agora quem propõe uma pergunta para o grupo?
Esquentando ainda mais nosso encontro: em roda, mãos dadas, prestando atenção em quem está do lado direito e do lado esquerdo, soltar as mãos, trocar de lugar, ficar bem pertinho e então sem sair do lugar buscar as mãos que nas rodas estavam dadas as nossas. e construimos o chamado: nó humano! nó é bom porque dá pra desatar! e esse é o desafio, sem soltar as mãos, na cooperação, voltar à formação de roda!

Mais desafios: em dupla. Um na frente de outro, o que está na frente olhos fechados. E partimos para um jogo da confiança, estimulando o confiar em outros níveis. Confiar: fiar juntos!Regras do jogo: mãos nas costas anda para frente, mão na barriga anda para trás, mão no ombro direito vira para a direita, ombro esquerdo para a esquerda, toque na cabeça é para parar. E quem conduz é parceiro que cuida e auxilia o outro nessa brincadeira , quem sabe, a superar medo.
Ousando um tiquinho mais, limite não há! o infinito é nosso destino! :)Agora o desafio é: em grupo, um por vez fica no meio de olhos fechados e sem tirar os pés do chão lança-se para frente, para trás, para o lado, onde vai ser acolhido pelos parceiros.
Após esses jogos fizemos uma roda de conversa para compartilhar sensações e percepções que as atividades iniciais provocaram.

Ainda em roda pedi que cada um formulasse em uma frase o que sente que é o maior desafio ao se trabalhar com adolescentes e jovens. Gosto da palavra desafio porque, para mim, ela carrega a força da superação, diferente da palavra dificuldade que, para mim, pode reverberar em acomodações, reclamações, resmungos...

Alguns desafios que foram postos na roda: "o desafio de fazer com que os jovens interessem-se pelos assuntos tratados em aula"; "o desafio de auxiliar os jovens a se respeitarem"; " o desafio de falar a mesma lingua que o jovem", etc.

Compreendendo que as soluções estão em nós, em nossa reflexão e prática e também apostando que a inteligência coletiva supera a inteligencia individual e que, portanto, na troca, no diálogo, no compartilhar dos pontos de vista, luzes aparecem ao auxilio da superação dos desafios, fizemos a dinâmica dos círculos de conversação, inspirada no World Café

O grupo dividiu-se em três mesas, uma das pessoas voluntariou-se para ser o anfitrião da mesa. O anfitrião é responsável por guardar a memória daquela mesa e depois compartilhar com o grupo maior a síntese das idéias que rolaram nas conversações na mesa. O anfitrião pemanece na mesa e os demais participantes trocam de mesa ao sinal da pessoa que está organizando o encontro. O objetivo é que todos conversem com o maior número de pessoas presentes.

Perguntas significativas para o grupo são feitas para provocar a conversa. Nesse encontro a primeira pergunta feita foi:"como superar o desafio de dialogar com os jovens sobre temas que a principio parece não interessá-los?"

E a segunda: "É possível falar a mesma linguagem que o jovem? se sim, como?"

Após o tempo de conversa, a primeira coisa sentida foi que mais tempo de conversa seria ótimo! rs. Mesmo com o limite de tempo não satisfatório o grupo compartilhou que foi uma dinâmica muito rica para todos. Trocar é agregar, trocando saimos mais ricos.

Para finalizar fizemos uma roda em pé e cada um disse uma palavra que sentia que sintetzava para si nosso encontro. União, cooperação, alegria, encontro, diálogo... entre outras surgiram. A minha foi: gratidão ;)

domingo, 21 de março de 2010

Receber sonhos

Área: nº 07 - julho/agosto/setembro de 1989 em Revista Teoria e Debate
Postado em:30/09/1989
Remanescentes de uma guerra de extermínio que quase os dizimou ao longo de cinco séculos, os índios brasileiros agora comparecem à sociedade civil brasileira representados por uma nova geração.
por Alípio Freire e Eugênio Bucci.
Entrevista: Ailton Krenak - Receber sonhos
Remanescentes de uma guerra de extermínio que quase os dizimou ao longo de cinco séculos, os índios brasileiros agora comparecem à sociedade civil brasileira representados por uma nova geração. Ailton Krenak é desta geração. Com habilidade, inteligência, é capaz de articular alianças e desenvolver políticas inéditas. Ao mesmo tempo, é um ser humano como poucos, que conversa com sua tradição por meio dos sonhos e que sonha com o futuro dos seus netos
A leitura desta entrevista, é nossa intenção, deve passar a mesma sensação que nos captou ao fazê-la: uma experiência definitiva. Isso vale tanto para a política que se pense para os índios brasileiros, que deve ser imaginada a partir da formulação de Ailton Krenak - "o ser humano não se preserva, o ser humano se respeita"-, como vale para o que se espera do futuro, para o que se guarda da memória, para o que se vive da vida.

Qual é a sua religião?
A minha religião é a dos meus avós, dos meus antigos.

Você pratica a sua religião?
Eu pratico. Eu acho que a nossa tradição é muito diferente, por exemplo, da dos cristãos, para quem a idéia de praticar uma tradição ou uma religião está vinculada a um conjunto de normas e condutas. Para nós isso não existe. Eu não tenho que ir a um templo, não tenho que ir a uma missa. Eu me relaciono com o meu criador; me relaciono com a natureza e com os fundamentos da tradição do meu povo.

Existe essa natureza aqui em São Paulo?
Ela existe em cada uma das células do meu corpo. Ela existe em cada um dos pequenos, no ar que eu respiro, naquelas plantinhas que estão ali no quintal, na chuva que cai, nos raios de sol que atravessam todos esses concretos e cimentos e passam por este buraquinho da janela aqui. E ela bate com a mesma força e intensidade com que faz uma cachoeira lá no meio do Amazonas ou uma geleira lá no Alaska. Porque a natureza é a vida mesmo. Não há natureza apenas num parque, num jardim.

Como se dá essa passagem de memória entre os índios?
Você me perguntou há pouco sobre minha educação e alfabetização. Para mim e para meu povo,ler e escrever é uma técnica, da mesma maneira que alguém pode aprender a dirigir um carro ou a operar uma máquina. Então a gente opera essas coisas, mas nós damos a elas a exata dimensãoque têm. Escrever e ler para mim não é uma virtude maior do que andar, nadar, subir em árvores,correr, caçar, fazer um balaio, um arco, uma flecha ou uma canoa. Acredito que quando uma cultura elege essas atividades como coisas que têm valor em si mesmas está excluindo da cidadania milhares de pessoas para as quais a atividade de escrever e ler não tem nada a ver. Como elas não escrevem e não lêem, também nunca serão parte das pessoas que decidem, que resolvem. E quando aceitei aprender a ler e escrever, encarei a alfabetização como quem compra um peixe que tem espinha. Tirei as espinhas e escolhi o que eu queria. Acho que a maioria das crianças que vão hoje para a escola e que são alfabetizadas é obrigada a engolir o peixe com espinha e tudo. É uma formação que não atende à expectativa delas como seres humanos e que violenta sua memória. Na nossa tradição, um menino bebe o conhecimento do seu povo nas práticas de convivência, nos cantos, nas narrativas. Os cantos narram a criação do mundo, sua fundação e seus eventos. Então, a criança está ali crescendo, aprendendo os cantos e ouvindo as narrativas. Quando ela cresce mais um pouquinho, quando já está aproximadamente com seis ou oito anos, aí então ela é separada para um processo de formação especial, orientado, em que os velhos, os guerreiros, vão iniciar essa criança na tradição. Então, acontecem as cerimônias que compõem essa formação e os vários ritos, que incluem gestos e manifestações externas. Por exemplo, você fura a orelha. Fura o lábio para colocar o botoque. Dependendo de qual povo a que você pertence, você ganha sua pintura corporal, seu paramento, que vai identificar sua faixa etária, seu clã e seu grupo de guerreiros. Esses são os sinais externos da formação. Os sinais internos, os sinais subjetivos, são a essência mesma daquele coletivo. Então você passa a compartilhar o conhecimento, os compromissos e o sonho do seu povo. As grandes festas se constituem em instantes de renovação permanente do compromisso de andar junto, de celebrar a vida, de conquistar as suas aventuras.


leia na íntegra: aqui

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“O homem habita poeticamente na terra, mas também prosaicamente e se a prosa não existisse, não poderíamos desfrutar da poesia” Hölderling

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"Nossa missão não é mais a de conquistar o mundo como acreditava Descartes, Bacon e Marx. Nossa missão se transformou em civilizar o pequeno planeta em que vivemos. Por outro lado, as ciências da terra nos inscrevem neste planeta que é formado por fragmentos, fragmentos cósmicos de uma explosão de sóis anteriores e resta saber como estes fragmentos reunidos, aglomerados puderam criar uma tal organização, uma auto-organização para nos dar este planeta. É necessário mostrar que ele gerou a vida, e a nós somos; filhos da vida. A biologia, a teoria da evolução, nos prova como nós trazemos dentro de nós efetivamente o processo de desenvolvimento da primeira célula vivente que se multiplicou e se diversificou. Quando sonhamos sobre nossa identidade, devemos pensar que temos partículas que nasceram no despertar do universo, temos os átomos de carbono que se formaram em sóis anteriores ao nosso, pelo encontro de três núcleos de hélio que se constituíram em moléculas e neuromoléculas na terra. Somos filhos do cosmo, mas nos transformamos em estranhos pelo nosso conhecimento e pela cultura (...)
Seremos capazes de civilizar a terra e fazer com que ela se torne uma verdadeira pátria? Estes são os sete saberes necessários ensinar, não digo isso para modificar programas. Na minha opinião não temos que destruir disciplinas, mas temos que integrá-las, reuni-las uma as outras em uma
ciência como as ciências estão reunidas, como, por exemplo, as ciências da terra, a sismologia, a vulcanologia, a meteorologia, todas elas, articuladas em uma concepção sistêmica da terra. Penso que tudo deve estar integrado, para permitir uma mudança de pensamento que concebe tudo de uma maneira fragmentada e dividida e impede de ver a realidade. Essas visão fragmentada faz com que os problemas permaneçam invisíveis para muitos, principalmente para muitos governantes (...)"